Os talentos lapidados nas categorias de base movimentam investimentos colossais dos clubes, dando retorno somente após longevas temporadas, quando atingem padrão considerado ideal para a profissionalização no futebol. Em casos raros, dada a maturação precoce, alguns avançam etapas e chegam ao time de cima ainda crianças. A sensação da Copinha 2022, o menino Endrick, tem 15 anos e representa o ponto fora da curva do brilhantismo prematuro.
Porém, e os jogadores que levam mais tempo para maturar? Não é incomum analisarmos garotos de até 24 anos ainda inaptos ao alto rendimento, seja por questões físicas ou psicológicas.
No início de 2022, graças à grave crise financeira vivida pelo Sport Club Corinthians Paulista, imprensa e torcedores voltaram suas críticas à categoria de Aspirantes (Sub-23) do clube alvinegro, indignados com a folha salarial anual de R$ 5 milhões despendida no setor. Como resultado, a divisão, criada em 2019, teve suas atividades encerradas em janeiro de 2022.
Sem aprofundar no mérito dessa situação específica, investir em talentos que ainda não desabrocharam é perda de dinheiro? Como o mercado internacional do futebol enxerga esses atletas?
Não se joga dinheiro fora
Financeiramente falando, não é producente que qualquer empresa libere um ativo no qual investiu por aproximadamente 10 anos sem receber contrapartida por isso, seja ela desportiva ou monetária.
Vários motivos podem levar à demora na ascensão de um atleta ao nível profissional. Insegurança, deficiência tática, insuficiência física e até data de nascimento são causas comuns, mas não únicas para explicar tal fenômeno.
Mesmo assim, não é útil ao clube simplesmente abdicar do jogador. A categoria Aspirantes/Sub-23 proporciona aos atletas tempo para evoluírem mental e corporalmente. Aos clubes, concede mais chances de utilizar jogadores promissores e de tanto investimento.
Exemplos não faltam: o atacante Bruno Henrique, destaque do Flamengo nas conquistas de Libertadores e Brasileirão em 2019, se profissionalizou aos 22 anos. Borges, renomado goleador brasileiro, teve seu primeiro contrato aos 21 anos, com o Arapongas-PR. Na mesma função, Liedson, ídolo corintiano, assinou com o Poções-BA com 23 anos.
Olhando para o exterior, Jamie Vardy, artilheiro do surpreendente Leicester campeão da Premier League em 2015/16, com 23 anos, estava disputando a 8ª divisão inglesa, recebendo 30 euros por semana.
Contudo, para ser viável a manutenção dos Aspirantes, é vital a existência de um…
Calendário de competições
No Brasil, desde 2017, há o Campeonato Nacional de Aspirantes, realizado entre junho e outubro. São 5 meses de disputa. A outra mais da metade do ano fica relegada a jogos e torneios amistosos, dificultando a análise do nível dos atletas e prejudicando ainda mais a escalada rumo à profissionalização.
A esmagadora maioria das instituições esportivas do País não tem condição de manter básica estrutura de formação. Adicionar mais uma faixa etária, sem perspectiva de capitalização com direitos de transmissão ou incerteza quanto utilização/venda dos atletas nela presentes, torna insustentável toda a gestão da categoria de Aspirantes.
Podemos citar três mecanismos capazes de potencializar o Sub-23 no Brasil:
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Acompanhamento e Desenvolvimento psicológico dos atletas juniores
Desde pequenos, os atletas necessitam do apoio de profissionais capacitados da psicologia infantil e assistência social. O clube precisa compreender as angústias e anseios dos atletas promissores, permitindo evolução e maturação gradual e contínua das crianças até o profissional.
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Alongamento do Calendário Competitivo
Prolongar o Brasileirão de Aspirantes e criar competições de escala Estadual e Municipal. Atualmente, o campeonato nacional tem 16, sem divisões. Pode-se fomentar o interesse em participar desses torneios com aumento de premiação, criação de sistema de transmissão dos jogos e divulgação publicitária das partidas.
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Enxergar Além da Idade
Atletas veteranos convivem com críticas relacionadas à vitalidade que demonstram em campo. A partir dos 30 anos, comentários de que “não aguentam mais jogar em alto nível” são rotineiros, mas não encontram fundamentação a depender de como o jogador se cuida e leva sua vida profissional. Da mesma forma, é preciso encarar os jovens talentos. Não é porque ainda não ascendeu que não o fará em algum momento. A paciência pode render bons frutos – e dinheiro.
Por Pedro Parada.