Gegenpressing – Contrapressão

Também conhecido como “Perde-Pressiona” e “Contra Contra-Ataque”, Gegenpressing é um princípio defensivo implementado na transição defensiva. Trata-se de tática de contrapressão intensa e sua aplicação pode ter diversos objetivos.

Porém, antes de aprofundarmos o tema Gegenpressing, faz-se fundamental conhecer sua história e precursores.

Origem e Evolução

Existem registros de equipes utilizando Gegenpressing desde a década de 60 na Alemanha, União Soviética e Holanda, em especial o Ajax de Rinus Michels. Contudo, a fama – e melhor execução – advém do Supercampeão AC Milan dos anos 80/90, comandado pelo revolucionário italiano Arrigo Sacchi.

Homens em pé comemorando. Em primeiro plano, dois seguram taça de campeão da Champions League

Arrigo Sacchi, o segundo em pé da esquerda para direita, comemora a conquista da Champions League ao lado de seus comandados do AC Milan

Com o passar do tempo, grandes técnicos utilizaram o legado de Sacchi e desenvolveram seus próprios estilos de Gegenpressing. Alguns notórios são Jupp Heynckes, Marcelo Bielsa, Diego Simeone, Pep Guardiola e Jurgen Klopp. O último, atualmente dirigindo o Liverpool FC, tornou-se o principal difusor da contrapressão, discorrendo profundamente sobre o assunto em sua biografia.

Os resultados da incorporação do Gegenpressing são revalidados constantemente, uma vez que renderam à Hansi Flick a Champions League 2019/2020 com o Bayern de Munique, à Jurgen Klopp a Champions 2018/2019 e a Premier League 2019/2020, e à Pep Guardiola duas Premier League seguidas (17/18 e 18/19).

Logicamente, a contrapressão não foi o único fator responsável pelos títulos e sucesso das equipes destacadas acima, mas é ponto comum em grandes clubes com proposta ofensiva e de controle de bola.

Entretanto, como funciona Gegenpressing na prática?

Conceito

De maneira simples, Gegenpressing é espécie de marcação aplicada logo após a perda da posse da bola, enquanto o time busca se postar defensivamente no campo de jogo. Por isso, é tática de transição defensiva, ou seja, entre fase ofensiva (pronto para atacar) e defensiva (postado para proteger).

Diferente do superficialmente concebido, contrapressionar não é ação individual. Para ser eficiente, pressupõe atividade coesa entre atletas do mesmo setor. A referência será sempre a localização da bola. Logo, os jogadores próximos a ela deverão preparar-se para tentar recuperá-la enquanto se aprontam para atacar na etapa ofensiva.

Confuso? Vamos esmiuçar para ficar claro.

A primeira preocupação será com recuperar a posse. Para isso, algum jogador – ou vários – irá avançar sobre o portador da bola quando ela for perdida. Durante tal investida, atletas em outras posições terão outra função, seja fechando linhas de passe ou posicionando-se estrategicamente para estarem aptos a receber a bola e atacar a zaga desprotegida. Como dito anteriormente, um dos nomes dados ao Gegenpressing é Contra Contra-Ataque. Portanto, busca criar situação de ataque durante a transição ofensiva do adversário.

Arrigo Sacchi apresentava a contrapressão como controle de espaço e do psicológico do adversário porque impede o desenvolvimento natural das habilidades do oponente: “Se deixarmos nossos rivais jogarem da maneira que estão acostumados, eles crescerão em confiança. Se os pararmos antes de terem a chance de agir, prejudicaríamos sua moral”.

Em resumo, Gegenpressing é a pressão exercida depois da perda da posse para impedir a transição ofensiva do adversário e recuperar a posse o mais rápido possível em posição favorável do campo de jogo.

Objetivos

Delimitar objetivos claros é essencial antes de incorporar qualquer estilo de jogo. O que o Gegenpressing é bom em fazer? Para que é usado?

Analisemos um exemplo: determinado jogador perde a bola e parte em direção ao adversário para pressionar. Qual a finalidade dessa ação?

Existem algumas respostas. A primeira delas é bastante óbvia. O jogador deseja recuperar rapidamente a posse através do desarme.

Ele pode também querer forçar um erro de passe ou “chutão”, pois o outro atleta ainda não teve tempo de pensar na ação seguinte.

Outra opção é interceptar o passe ele próprio ou capacitar um companheiro para tal.

Ainda, pode estar somente “fazendo número”, ajudando a neutralizar a superioridade numérica do adversário na saída de bola.

Ou até mesmo todas essas ações simultaneamente. Tudo depende do planejamento técnico do clube.

Ante o posto, a finalidade do Gegenpressing deve estar clara e ser compartilhada pela equipe, capacitando compreensão e naturalidade na implementação desse estilo no jogo, além de ambientar os jogadores a ponto de criarem e improvisarem sobre o modelo, respeitando e aumentando a qualidade da contrapressão.

Espécies

Cada técnico dá traços pessoais ao Gegenpressing, sendo irreal a listagem de todas as vertentes existentes. Por isso, nos ateremos a três de seus grandes pensadores: Jupp Heynckes, Pep Guardiola e Jurgen Klopp.

  • Gegen à la Heynckes

O lendário treinador alemão, vencedor da Tríplice Coroa (Champions e campeonato e copa nacionais) pelo Bayern de Munique na temporada 2012/2013, utilizava o Gegenpressing com foco em garantir a recomposição defensiva.

Para Heynckes, era fundamental diminuir a velocidade do contragolpe adversário e forçá-lo a tocar para trás.

Metodologicamente, ao perder a posse, o jogador mais perto da bola a pressionará. Seus companheiros ao redor – neste caso, em raio de 15 metros da ação de recuperação – ficarão encarregados de marcar individualmente o atleta rival mais próximo.

Frisa-se que Jupp Heynckes não anseia pela retomada da bola no ponto pressionado. O propósito é recompor e impedir avanço rápido do adversário.

Prancheta técnica com bolas coloridas representando a equipe do Bayern de Munique

Demonstração da marcação pós-perda do Bayern de Munique 2012/13. Atleta próximo à bola pressiona-a enquanto companheiros marcam adversários próximos

  • Gegen à la Guardiola

O icônico técnico espanhol adotou o Gegenpressing em seu multicampeão Barcelona FC (2008-2012), mas não pensando na recomposição defensiva. Quem acompanha a trajetória de Pep Guardiola conhece sua predileção pela posse da bola e rápida recuperação. Portanto, desenvolveu contrapressão capaz de retomá-la em poucos segundos.

Logo depois da perda da posse, o jogador mais próximo dela pressionará o novo portador – se possível, aliado a quem a perdeu. Os demais evitarão embate direto, movimentando-se somente para fechar linhas de passe curto. O propósito é forçar chutões”.

A bola “rifada” será devolvida ao time de Guardiola em posição favorável para iniciar a transição ofensiva, construindo jogadas desde o campo de defesa.

Campo de futebol com círculos roxos e laranjas

O Supercampeão Barcelona FC, sob comando de Pep Guardiola, limitava o adversário a dar “chutões”. Assim, reiniciava sua tentativa de ataque diversas vezes dentro do mesmo jogo

  • Gegen à la Klopp

Herança de seu tempo no FSV Mainz 05, o Gegenpressing utilizado por Jurgen Klopp busca tirar o fôlego do adversário. Implementou o mesmo modelo – e obteve sucesso – no Borussia Dortmund e no Liverpool FC. Para Klopp, tudo se baseia em não deixar o rival pensar, correr ou respirar.

Se perdem a posse, os times de Klopp sempre buscam o embate direto aliado à superioridade numérica. Jogadores próximos da jogada podem dobrar, triplicar, ou até mesmo quadruplicar a marcação no adversário portador da bola. O que importa para o treinador alemão é a rápida recuperação da bola no campo ofensivo. Portanto, não se quer um “chutão”, erro forçado ou tempo para realizar transição defensiva. Nesse estilo, prevalece a disputa física pela posse.

Apesar de soar simples e motivador em primeira vista, esse estilo de Gegenpressing é altamente arriscado e exige bastante treino e coordenação. Uma contrapressão ousada como a de Jurgen Klopp permite a criação de linhas de passe por concentrar vários jogadores no mesmo setor. Logo, contra times com excelentes tomadores de decisão no setor defensivo, espaços ficarão expostos.

Outro fator relevante: seus jogadores priorizarão jogadas de toques curtos em detrimento de lançamentos e inversões de lado. Isso porque após perder a bola, o time já estará extremamente compacto para evitar que o adversário tenha tempo e espaço para tomar decisões. Se o jogador está próximo do rival quando perde a bola, fica fácil tentar desarmá-lo. Não se gasta tanta energia no deslocamento. Se estiver distante, cansará e será ineficiente.

Campo de futebol com círculos amarelos e azuis

O Borussia Dortmond de Jurgen Klopp (2008 – 2015) era implacável. Chegou em uma final de Champions League e venceu dois campeonatos alemães. Como se observa, o foco dos atletas próximos à jogada sempre era buscar o desarme

Estratégias de Otimização

Dois pontos observados pelos analistas de desempenho garantem o pleno funcionamento do Gegenpressing:

1 – Identificam qual/quais jogador(es) do adversário ficam desconfortáveis sob pressão. Geralmente, são os laterais ou zagueiros. Algumas vezes, o primeiro volante;

2 – Investigam quais linhas de passe/jogadores são mais utilizadas/alvos de passes do time adversário para pressioná-las com veemência.

O treinador se atentará à atuação de sua última linha defensiva, pois o Gegenpressing exige sua elevação durante a fase ofensiva. A contrapressão pressupõe pouco espaço de jogo para tornar-se sufocante e a marcação no campo adversário assegura essa compressão territorial.

Ademais, há questão extremamente relevante por muitas vezes ignorada: quando parar de pressionar alto?

A marcação-pressão deve ser breve após a perda da posse (em média, 5 segundos) e enquanto a bola está sob domínio do homem que a roubou/está dividindo-a. Se o adversário consegue tirar a bola da zona de pressão, o time irá recompor defensivamente para evitar inferioridade numérica. Caso o atleta fique desguarnecido, retomará sua posição.

Preparação Física e Psicológica

O condicionamento de atletas será voltado às demandas de alta intensidade, principalmente em relação aos jogadores da linha ofensiva, introduzidos à obrigação de pressionar. No Gegenpressing, exige-se elevado nível de concentração e entrosamento no time para não deixar espaços no setor defensivo e nem oferecer linhas de passe ao adversário.

Os jogadores precisarão de velocidade de reação para agirem assim que um companheiro perde a bola. O jogo será observado a todo momento. A contrapressão demanda assistir à partida de dentro, sem perder um segundo sequer.

Gegenpressing – Vale a pena?

Se mal treinado e aplicado sem devida preparação física e mental, o Gegenpressing causará mais danos do que benefícios no curto prazo. Muitos espaços no setor defensivo, cansaço excessivo dos jogadores de frente e pouca efetividade na marcação serão algumas das principais consequências da má contrapressão. Em pouco tempo, torcedores pedirão a cabeça do treinador e mudança radical de estilo, favorecendo “retrancas” e defesa segura.

Entretanto, quando incorporado como princípio basilar da equipe e desenvolvido com boa metodologia, não há dúvidas, o Gegenpressing se torna maneira muito eficiente de se defender: longe da própria meta, roubando bolas em posições favoráveis e minando a confiança do adversário no transcorrer da partida.

Treinamentos de Gegenpressing são exaustivos e demorados, além de levar até meses para tornarem seus hábitos intrínsecos ao jogador, mas se houver período razoável para desenvolvimento (em especial em pré-temporadas), apoio da diretoria e suporte dos atletas, a contrapressão transformará qualquer time, deixando-o mais próximo da vitória com frequência.

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