Retardamento é um Princípio Estrutural de Defesa (P.E.D.) bastante difundido e utilizado no futebol brasileiro. Fundamental à recomposição defensiva, garante tempo aos jogadores na ocupação do espaço estabelecido para defender.
De acordo com Rodrigo Leitão (2009), os P.E.D. são norteadores da estruturação e posicionamento no campo de jogo durante a fase defensiva. Portanto, seus objetivos são diminuir espaços de ataque do adversário, impedir investidas com superioridade numérica e facilitar a recuperação da bola.
Voltando ao retardamento, essa tática precisa ser esclarecida conceitualmente para não ser confundida com antijogo. Por isso, tratar-se-á de seu funcionamento, correta aplicação e benefícios.
Conceito
Por definição semântica, retardamento é diminuição da velocidade de um corpo graças a algum agente externo. No futebol, podemos traduzir para posicionamento voltado a reduzir o ritmo do jogador adversário com bola. Em outras palavras, retarda a ação do rival com posse, seja ela passar, driblar, conduzir, controlar ou chutar.
Diferente do Gegenpressing, a preocupação do retardamento está em atrasar as ações do adversário, não em roubar a bola no primeiro embate.
Muitos treinadores, por compreenderem somente a parte de retardar o avanço adversário, passam aos atletas que podem cometer infrações com esse intuito. Porém, é importante salientar que faltas/antijogo não fazem parte do processo, sendo prejudiciais para todo o esquema por criar oportunidades de bola parada, impedir recuperação da bola no transcorrer da jogada e não necessariamente ganhar o tempo necessário para reequilibrar o sistema defensivo.
Retomando ideias de Rodrigo Leitão, retardamento busca ocupar espaços de maneira inteligente para não permitir a rápida progressão da equipe (ou jogador) adversária em direção ao campo de ataque. A intenção é restringir opções espaciais do jogador com bola, dando-lhe menos alternativas de jogo em direção ao ataque.
Operacionalização
Retardamento compõe o rol de defesas setoriais, ou seja, aquelas realizadas próximas à bola por pequenos grupos de jogadores (2 a 5, em média).
Com isso em vista, o próximo passo na aplicação do retardamento é estabelecer quais finalidades quer atingir. Geralmente, utilizam-no para impedir transição ofensiva rápida. Dessa forma, a maneira mais simples de praticá-lo é coordenar a equipe para que o jogador mais próximo à bola, sempre que perdida, pressione o novo portador obrigando-o a ficar de costas para o setor ofensivo ou a recuá-la, garantindo segura recomposição.
Faltas permitirão lançamentos, prejudicando o foco do retardamento em questão: impedir transição ofensiva rápida.
Outra forma de implementar retardamento é durante a saída de bola adversária. O jogador mais próximo ao rival desmarcado investe contra ele enquanto outro companheiro, mais perto do que saiu da posição, preenche seu espaço, marcando quem estava sob incumbência do primeiro marcador. O objetivo será forçar chutão ao bloquear construção ofensiva qualificada.
Consequências
Como tudo no futebol, qualquer tática terá qualidades e defeitos. Equipes coesas aprendem a balancear variáveis constantemente durante a partida a fim de não comprometer o rendimento geral.
Os principais prós são: recomposição do sistema defensivo e constrição de linhas de passe durante transições ofensivas. Times com elevado desígnio defensivo, confundido no Brasil como sinônimo de estabilidade, optam frequentemente pelo retardamento, em especial quando passam por crises. Contudo, abdicam de outros princípios estruturais de defesa e nem desenvolvem os de ataque.
Como sequela, o retardamento, em especial aquele mal conduzido, permite mais tempo de pensamento ao portador da bola e muitas opções de passe horizontais/para trás. Caso o adversário conte com volantes, armadores e/ou zagueiros bons passadores, o retardamento deixará muitos espaços em situações de inversão de jogo, uma vez que as linhas estarão preocupadas em retornar à posição defensiva.
Ante o posto, o retardamento é importante para equipes que necessitam de tempo para recompor-se defensivamente, mas pode produzir situações perigosas de contra-ataque se não estiver bem treinado e ignorar características do adversário, com destaque à qualidade de passe na zona defensiva.