Esperança

Roberto Campos, ex-Ministro do Planejamento do Brasil, foi bastante cirúrgico ao caracterizar a confusão do cenário econômico nacional. Em seu período atuante, costumava dizer que nossa economia era tão caótica que até seu passado era imprevisível. Confesso que não possuo informações suficientes para dizer se Campos era um amante de futebol, mas tenho certeza de que se ele decidisse substituir a palavra “economia” por “futebol brasileiro”, a frase manteria coerência.

Todo início de temporada dos clubes brasileiros é similar. Grupos de WhatsApp e páginas de torcedores no Twitter se enchem de críticas em relação aos comandantes que irão treinar os grandes times. Basta que o primeiro resultado negativo aconteça para que treinadores sejam acometidos por imensa carga de cobranças. Após essa avalanche, dirigentes engravatados cedem à pressão e realizam trocas atrás de trocas sem o menor critério técnico e paciência para observar a formação da equipe. Esse ciclo vicioso se repete durante o ano inteiro.

Dentro desse mar de arcaicidade, 2021 parece nos reservar uma luz no fim do túnel no que se refere ao processo de escolha de treinador. Hernán Crespo chega ao São Paulo depois de processo de seleção no qual diversos técnicos foram convidados a apresentar seus respectivos modelos de jogo e suas maneiras de montarem uma equipe. Essa seletiva representa algo inédito nos últimos anos do futebol nacional.

Clubes brasileiros, dentro de sua conturbada CNTP, antes de contratarem um comandante, reúnem uma espécie de “comitê de administração”, composto costumeiramente por torcedores com conhecimento limitado de gestão esportiva, onde uma série de treinadores absolutamente antagônicos são colocados em pauta.

A tríade de análise é sempre a mesma: treinador que está na “moda”, ou que terá respaldo da torcida ou que se encaixa nos padrões financeiros do clube. Raramente há visão a longo prazo, enxergando o treinador como uma engrenagem de vasta amplitude em relação ao futebol profissional. O treinador acaba sendo contratado para tapar buracos – estes, feitos, na maioria das vezes, pela própria diretoria.

O processo seletivo do São Paulo parece ser bastante promissor e merece elogios. Em um clube vindo de gestões bastante controversas e de fracassos retumbantes, uma nova era, com escolha de treinador feita com muita cautela e critério, soa animador. Claro que resultados negativos no começo do Campeonato Estadual podem acabar minando todo esse sistema, mas a busca por métodos profissionais, saindo da normalidade brasileira, já é o suficiente para, no mínimo, dar esperança.

Escrito por: Guilherme Vidal Martins Couto

Guilherme é bacharelando em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Entusiasta do esporte, é colaborador do The Whaler e o melhor narrador de videogame do Brasil.

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