Cada clube tem sua própria cultura, determinada por fatores como localização geográfica, títulos epopeicos, rivalidades e derrotas memoráveis.
No futebol brasileiro, podemos destacar desde o DNA ofensivo do Santos, representado por Pelé e seu esquadrão que parou uma Guerra, ao estilo aguerrido e competitivo do Grêmio, oriundo das canchas sulistas e imortalizado na figura de Hugo De León, capitão da conquista da Libertadores pelos gaúchos em 1983.
![Pelé à esquerda e Hugo de Leon à direita, levantando a Taça Libertadores](http://thewhaler.com.br/wp-content/uploads/2022/02/Pelé-e-Hugo-scaled.jpg)
Com estilos antagônicos, Pelé e Hugo De León simbolizam a essência de Santos e Grêmio, respectivamente.
Porém, todos os times estão sujeitos a maus momentos. Às vezes, decorrente de prolongado período de seca de títulos, equipes-alicerces do futebol nacional deixam se esvair essa cultura vencedora, construída por décadas de garra, luta e troféus.
O São Paulo, caracterizado pelo futebol vistoso e mentalidade vanguardista, levou somente um Campeonato Paulista nos últimos dez anos. Botafogo e Vasco, dizimados por diretorias irresponsáveis, passaram de postulantes ao Campeonato Brasileiro a meros coadjuvantes, acumulando rebaixamentos desde a virada do século XXI.
![Aidar, à esquerda. Montenegro, ao centro. Salgado, à direita.](http://thewhaler.com.br/wp-content/uploads/2022/02/Aidar-Montenegro-Salgado-scaled.jpg)
Aidar (esquerda), Montenegro (centro) e Salgado (direita) foram presidentes de São Paulo, Botafogo e Vasco nas piores eras dos respectivos clubes. Se quem está no topo não é capacitado, todo o resto não funciona.
Mesmo em situações dramáticas, é possível retornar aos grandes tempos?
Com certeza. Mas a esperança se baseia na retomada da Cultura Vencedora do clube
A melhor definição para Cultura Vencedora é de Ary José Rocco Júnior, sob o nome de cultura organizacional:
“A cultura organizacional, da qual a comunicação interna é pilar inexorável, pode ser vista, portanto, como o alicerce para a formação de uma identidade dos indivíduos nas organizações, não havendo como pensar a noção de identidade senão em função da interação com outros. As identidades dos indivíduos são construídas de acordo com o ambiente em que se inserem, envolvendo, entre outras coisas, as estruturas sociais, a cultura e o histórico das relações”
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Em outras palavras, a Cultura Vencedora é a mentalidade norteadora das decisões essenciais do clube. A influência advinda da instituição moldará os profissionais inseridos nela.
Para renascer, o clube precisa retomar seus principais elementos: Mente, Corpo e Alma.
Mente = Diretoria
A Cultura Vencedora está enraizada na memória daqueles que amam e vivem o seu time. Ao fechar os olhos, conseguem idealizar como a equipe deve se portar em campo. Portanto, o cérebro comandante, a Diretoria, carece estar alinhada aos desejos do torcedor e à Cultura Vencedora do próprio clube – e isso não só nas quatro linhas.
Decisões contrárias à Cultura natural da agremiação são facilmente perceptíveis e causam rupturas drásticas nas relações clube-jogadores e clube-torcedores.
Tomemos por exemplo a contratação de Fábio Carille, treinador retroativo, pelo Santos, dono do mencionado DNA Ofensivo. Há prazo de validade para esse vínculo. Administrativamente, o sucateamento do departamento médico do São Paulo, criticado pelo técnico Rogério Ceni publicamente, machuca o orgulho do torcedor tricolor, acostumado com atletas internacionais vindo ao Brasil se tratar no Reffis.
É imprescindível que a diretoria elenque os setores críticos do clube e qual a direção a seguir, contratando profissionais engajados com sua Cultura Vencedora.
![John Textor em frente ao gramado do estádio Nilton Santos](http://thewhaler.com.br/wp-content/uploads/2022/02/Textor.jpg)
The Botafogo Way: O investidor majoritário da SAF Botafogo, John Textor, optou pela demissão do treinador Enderson Moreira, campeão da Série B e com aproveitamento superior à 70%. Ele busca outro estilo de jogo, ligado à velocidade, posse de bola e cultura de base do clube. Se a decisão surtirá efeitos positivos, só o tempo dirá. Confira o pronunciamento completo do norte-americano aqui.
Alma = Comissão Técnica
Dos juniores ao profissional, os treinadores e staff devem propagar a Cultura Vencedora da entidade.
Pouco se vê no Brasil o investimento em profissionais da comissão técnica dentro dos clubes. Pessoas conectadas ao clube por paixão estão mais propensas a se doarem à especialização em nome da instituição.
Por que não bancar a profissionalização de treinadores, preparadores físicos e auxiliares e construir um futebol próprio ao invés de gastar trocando de técnico aleatoriamente?
![Fábio Carille erguendo a taça de campeão brasileiro em 2017](http://thewhaler.com.br/wp-content/uploads/2022/02/Carrile-Corinthians.jpg)
Fábio Carille integrou a comissão técnica permanente do Corinthians por quase 10 anos antes de assumir a equipe profissional. Aprendeu e utiliza os métodos de treinadores consagrados no alvinegro, como Mano Menezes e Tite. Foi tricampeão paulista e campeão brasileiro pelo clube.
Corpo = Atletas
Os atletas formados na base devem repor/suprir necessidades do elenco. A Cultura Vencedora incutida neles desde a infância permanecerá no profissional.
Gastam-se milhões em contratações ao invés de reverter esse capital no desenvolvimento de novas joias, que podem render esportiva e financeiramente.
Jogadores gerados no clube entenderão melhor as vontades do torcedor, o funcionamento da estrutura e o modelo de jogo preconizado pela organização.
Caso precise recorrer ao mercado, é fundamental contratar baseando-se não só na técnica do atleta, mas primordialmente analisando sua mentalidade, promovendo harmonia para render e seguir a Cultura Vencedora do time.
![Thiago Neves apontando para o céu. Edilson e Robinho correndo em sua direção.](http://thewhaler.com.br/wp-content/uploads/2022/02/Cruzeiro-rebaixado.jpg)
Thiago Neves (apontando para o céu), Edilson (centro) e Robinho (direita): Jogadores são símbolo do pior Cruzeiro na história, fazendo complô contra treinadores e culminando no rebaixamento da equipe Celeste para a segunda divisão, de onde ainda não retornou.
Nenhum clube é igual. Suas histórias são únicas e moldam seus torcedores, diretoria e estilo de jogo.
O respeito à Cultura Vencedora incrustada na instituição permite a delimitação clara dos objetivos desportivos e a maneira de alcançá-los.
Futebol não é só vencer. É como fazê-lo. E cada time tem seu jeito preferido de conquistar.
Por Pedro Parada