Diversos mercados apostam na nostalgia como fator mobilizador. O cinema produz continuações, reboots e remakes com frequência, apostando no sentimento da audiência como fonte dos lucros. Roteiro, interpretação e produção, relacionados à qualidade da obra, ficam em segundo plano. O importante é gerar emoções no espectador – sejam boas ou ruins – e, ao final, ser remunerado. Suga-se até a última gota daquele “universo” antes de deixa-lo para trás.
No futebol, a nostalgia aplica-se da mesma maneira, mas agregada à esperança do torcedor. O desespero, combinado à saudade dos bons e velhos tempos de glória, fazem com que os clubes, em momentos desesperados, busquem segurança em treinadores e jogadores vencedores pelas suas cores, independentemente do tempo passado.
A contratação de Mano Menezes pelo Corinthians e a sombra de Tite na mesma instituição são provas disso. O eterno chamado à Jorge Jesus, pelo Flamengo, corrobora esse entendimento. O Atlético Mineiro, quando apertado pela exigência de resultados, clamou por Cuca, mesmo com suas questões pessoais fervilhando nos bastidores.
Não há planejamento que resista ao Mercado da Esperança. Nele, dirigentes negociam com atletas e comandantes visando manipular a emoção (e desespero) dos torcedores. Vencedores do passado são alçados ao patamar de unanimidades e se tornam a materialização da esperança, semelhante às figuras religiosas.
Rogério Ceni, uma das maiores figuras do futebol nacional e do São Paulo, foi utilizado como bode expiatório pela diretoria do Tricolor em suas duas passagens como treinador. Aglutinava a função de comando técnico com a de dirigente, usufruindo de coletivas de imprensa para requisitar melhorias no Centro de Treinamento. Sua imagem como jogador permanece poderosa, mas o treinador já possui ressalvas por parte da torcida.
Estendendo a compreensão do Mercado da Esperança, alguns mitos são idolatrados na parte de direção dos clubes. Andrés Sanchez, cacique político do Corinthians, participa ativamente do comando do alvinegro paulista desde 2007 e há possibilidade de se tornar Diretor de Futebol da equipe em 2024. Pedrinho, ex-atleta e comentarista esportivo, irá se candidatar à Presidência do Clube Social do Vasco da Gama nas próximas eleições.
No Gigante da Colina, inclusive, a empresa 777 Partners é tida como a fonte de perspectiva da instituição. No Bahia, a lógica se aplica ao Grupo City, principal comandante da SAF. Porém, há também personificações desses messias. John Textor, no Botafogo, Ronaldo “Fenômeno”, no Cruzeiro, e Leila Pereira, no Palmeiras, propagam suas imagens como donos e salvadores dessas centenárias agremiações.
É evidente que tais figuras têm seu valor histórico e importância para o desenvolvimento, solidificação e reestruturação desses clubes, mas tê-los como Oásis de Esperança é contraprodutivo e vicioso, pois serão sempre celebradas e cotadas a retornarem aos cargos em tempos de instabilidade. Problemas diferentes exigem pessoas e soluções diferentes.
Além disso, existem equipes ao redor dessas pessoas. Funcionários, colegas e parceiros qualificados que produzem e alavancam as figuras no comando. Não se pode contratar treinador vitorioso e fornecer a ele elenco incapacitado, adquirir jogador extraclasse e coloca-lo com outros abaixo da média, ou escolher diretor de muitas contratações sendo que o clube está quebrado.
A instituição deve ser sólida por si só. Em períodos de crise, a fé permanece no clube pelo que ele é, independentemente dos profissionais presentes em campo ou na diretoria. Isso se constrói com o tempo, principalmente com a composição de departamentos qualificados e voltados ao resultado desportivo.
O sucesso e a estabilidade estão atrelados à mentalidade instrínseca da agremiação e aos funcionários permanentes, como comissão fixa, scout, departamento médico e colaboradores do dia a dia. As pessoas passam e os clubes ficam.
Por Pedro Parada.