A escola italiana de futebol é mundialmente conhecida pela sua capacidade defensiva. Marcação ferrenha, poucos espaços e dinamismo no contra-ataque. A origem dessa cultura está no Catenaccio, tática que perdura até os dias atuais, tendo como principais precursores Diego Simeone e José Mourinho.
Vamos destrinchar os principais elementos que tornaram o Catenaccio sinônimo de solidez defensiva e precisão ofensiva.
História
O criador do Catenaccio, ou o primeiro a unir suas características em um time, é Karl Rappan, austro-húngaro nascido em 1905 e que treinou a seleção suíça por décadas. Como os jogadores eram semiprofissionais, decidiu aposta no físico e tática ao invés da técnica de seus comandados para enfrentar elencos de maior tradição.
A formação que Rappan utilizava era o 1-2-3-5 e, defensivamente, baseava-se em três comandos:- Absorção da pressão;
- Rápida transição ofensiva;
- Marcação individual (atualmente, há preferência pela zonal).
Já ofensivamente, havia outras três diretrizes:
- Não utilizar mais de três toques na bola para chegar ao gol adversário;
- Focar nos toques para os jogadores laterais;
- Lançamentos longos realizados pelos volantes.
Outros treinadores começaram a desenvolver sobre o modelo do Catenaccio de Karl, com especial ênfase à Nereo Rocco, bicampeão da Liga dos Campeões pelo Milan, Helenio Herrera, argentino também bicampeão da Liga dos Campeões pela Internazionale de Milão, e Diego Simeone, com seus sistema de perseguição individual.
O Catenaccio tem orientações de movimentação claras e padrões bem definidos de jogo. Se seguidos à risca, tornam as defesas praticamente impenetráveis. A seguir, iremos analisar o principal formato utilizado por Rappan e algumas variações trazidas ao longo das décadas.
Conceito
O 1-2-3-5, na prática, se transforma em o 1-4-3-3 no momento de marcação. Porém, um dos zagueiros se tornava líbero, ou seja, ficam atrás dos demais, jogando somente na “sobra”, enquanto os pontas voltam para marcar as laterais:
O zagueiro do lado que está a bola fecha em diagonal com o lateral, enquanto o zagueiro do lado oposto fica centralizado, preparado para agir na cobertura:
Na Itália, com Nereo e Helenio, adaptou-se o esquema para manter uma linha de cinco defensores, sendo um deles o líbero, que ficará centralizado. Quando atacam, para manter a linha de 4 defensiva, o lateral no lado da bola avança, enquanto o que não joga recua para a linha. O nome Catenaccio, então, é solidificado e representa o “cadeado” em frente ao próprio gol.
Arrigo Sacchi, histórico treinador Milan no fim do século passado, implementou a pressão alta no Catenaccio, colocando seu time em linhas altas e o líbero marcando lançamentos longos dados pelo adversário.
O Novo Catenaccio, trazido por Diego Simeone, utiliza a formação 1-4-4-1-1, com duas linhas compactas com distância entre 15 e 20 metros entre as mais afastadas:
Ofensivamente, há ainda a difusão da transição do 1-4-3-3 ofensivo (“W-W”) para o 1-4-4-2 defensivo, alternativa do treinador argentino bastante comum no Atlético de Madri e que se tornou padrão no futebol brasileiro:
Simeone, ainda, em casos de extrema pressão, utiliza o 1-6-3-1, apostando suas chances ofensivas na mobilidade e velocidade do centroavante:
Catenaccio ≠ Ferrolho Suíço
Apesar de possuírem premissas semelhantes, o Catenaccio não é sinônimo do famoso Ferrolho Suíço. Catenaccio é uma evolução do Ferrolho, tendo como salutar diferença o estilo de marcação.
O Ferrolho está ligado ao “Ônibus Parado” de Mourinho, onde o único objetivo é a defesa, construída com marcação zonal, linhas de 5 a 6 atletas e extrema compactação:
Já o Catenaccio pressupõe forçar a marcação, mas mantendo a robustez das linhas defensivas. A marcação é, majoritariamente, individual, e há preocupação com o ataque, explorando as transições ofensivas com velocidade e precisão.
Enquanto no Ferrolho se abdica do ataque, o Catenaccio busca utilizar a defesa sólida para gerar oportunidades de gol, explorando o campo às costas da defesa adversária com a velocidade dos atacantes.
Por Pedro Parada.